terça-feira, 5 de abril de 2011

O peso

(Ilustração de Ruben Ireland - recomendo muito ir ao site e ver as outras...)


Eu tenho essa mania de transformar as coisas em mais difíceis do que são. Milan Kundera, em seu livro "A insustentável leveza do ser", discute sobre o peso que damos as coisas. Nos questiona se o que não podemos suportar é a certeza do peso, ou a impalpável leveza. 
Eu gostaria de pender pra leveza, dizer que ela é mais fácil. Mas ela parece tão intangível, tão abstrata, que não sei se poderia conviver com ela. O peso nos traz segurança. Nos esmaga e sufoca, é claro, mas em algumas medidas, traz o conforto. Como o peso de um abraço sincero, de cobertas no inverno ou do corpo da pessoa amada durante o sexo. 
Mas tornar as coisas mais pesadas do que são é um martírio. São pequenas coisas, no dia a dia, que vão me sufocando, me enterrando. É uma amiga dizendo que não vem jantar comigo, uma roupa que não serve do jeito que queria, o fato de não conseguir fazer tudo o que deveria fazer, os bolinhos de arroz que fizeram pra me agradar mas tomo como ofensa pessoal, o despertador que não escutei, as cadeiras que ainda não chegaram, uma mudança de horário. 
Quando percebo, já estou descontando em quem não tem nada a ver. Não gostaria disso, nem sei qual seria a justificativa, se é que tem uma. Quero respirar, me sentir leve de novo. Dar um sorriso sincero, me deixar flutuar. 
Mas hoje não sou pássaro, não sou libélula, não sou vento. Hoje sou uma rocha. Uma rocha cansada, decepcionada e arrependida. É o peso da existência que se abate sobre mim hoje. Hoje o que não consigo lidar é com essa falta de asas, essa falta de ar sob mim.

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