quarta-feira, 30 de março de 2011

Sobre o comer...

Vou começar por onde me incomoda mais: meu problema com a balança. 
Eu não sou gorda. Mas nunca fui magrinha. Sempre fui aquela criança fofinha, adolescente arredondada e agora (adulta? ainda não…) mais cheinha. Graças aos deuses e orixás, nosso país ainda prefere as gostosas, e existem muitos homens defensores da carne. Não me sentiria bem esquelética, e acho que só ficaria bem seca se ficasse doente. 
Minha família tem seios grandes. E bunda grande. E a maioria, tem a barriga grande também. Só nos falta altura. Tirando a barriga, não é tão ruim. É um corpo que várias gurias sonham em ter, ou fazem horas de academia e cirurgias pra chegar perto. Mas isso na minha puberdade foi o verdadeiro terror. 
Vi meu corpo mudar rápido, ganhar curvas, meu peito crescer e encher de estrias. Foi terrível, odiava cada pedaço de mim. Me olhava no espelho e chorava sem parar. Minha mãe vinha e chorava comigo, desesperada, porque não sabia o que fazer. Foi complicado. Ao mesmo tempo que notava que os homens olhavam para mim, e isso me deixava feliz e toda assanhada, também sofria com aquele corpo que não conhecia. 
Aí entrei numas de fazer dieta, por conta. Começou com a da lua, e depois foi pra dos pontos. A da lua não tem lógica nenhuma, e a dos pontos pode até ser boa se bem dirigida, mas no meu caso teve um efeito negativo. Como tinha que contar tudo o q comia, e só podia comer até x pontos diários, eu comia e botava pra fora. Vomitava, pra ser mais explícita. Chegou a um ponto de eu sentir tanto prazer em comer quanto vomitar. E aí eu me sentia muito mal. Comia horrores, e ai vomitava. Não vomitava tudo o que comia, só quando comia demais. E mais tarde comecei a tomar laxantes também. 
Superei essa fase gradualmente. Hoje não vomito mais. Mas não quer dizer que está tudo resolvido. O sentimento continua, aquela auto estima abalada, e a vontade de comer o mundo e o arrependimento depois. 
Agora como para não pensar no que sinto. Se tenho um problema, acho que mereço comer tal coisa. Tipo, sorvete. Ou pão de queijo. E não como um pouquinho, como até ficar cheia. A sensação da barriga cheia faz com que eu não pensei mais no problema. Não resolve nada, pelo contrário. 
E eu gosto muito de comer. E de cozinhar. E escolhi isso para ser minha profissão. Sim, eu sou contraditória. É paradoxal. Meu problema com a alimentação mais grave (bulimia) foi curado justamente pela gastronomia. Valorizando a comida. A gastronomia me deu mais confiança, mais segurança em mim. E também me engordou 10 quilos. Eu tenho 1,56m. E peso 65 quilos. Não é um absurdo, eu sei. 
Mas me irrita a grossura dos meus braços, o fato das minhas coxas roçarem umas nas outras quando ando e as graxinhas que escapam pra fora da roupa. E me irrita também pesar mais de 60 quilos. Mais que tudo, me irrita essa relação errada que tenho com a comida. Pra mim não basta deixar de comer qualquer coisa. Quero ter a liberdade de comer o que quiser. E me sentir bem, e estar saudável. Por um lado, sou uma libertina, por outro uma escrava. Esse é o primeiro equilíbrio que busco. Esse é meu primeiro desafio.

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